quinta-feira, 24 de setembro de 2015

MANIFESTO de MATOSINHOS, 23 de Setembro de 2015


MANIFESTO de MATOSINHOS
23 de Setembro de 2015

Somos os filhos de uma geração que, em Portugal, nasceu e cresceu no seio de uma sociedade dita industrial (ainda que a indústria tenha vindo a ser em grande medida “deslocalizada” e substituída pelos designados “serviços”). Somos os filhos de uma geração que nasceu e cresceu numa sociedade que se designou “de consumo”. Em relativamente poucas décadas os nossos modelos e estilos de vida alteraram-se radicalmente.
Passamos de uma sociedade com uma matriz essencialmente agrícola e artesanal para uma sociedade essencialmente especulativa e “massificada”, onde a agricultura, assim como muitas outras actividades tradicionais, passaram a ter um papel que se pode considerar marginal.
Os habitates naturais e as paisagens rurais, assim como naturais, viram-se profundamente alteradas por uma febre de construção e expansão urbano-industrial desenfreada caracterizada pela “explosão” de todo um conjunto de mega-obras construções, tais como estradas e auto-estradas, barragens, plantações massificadas de espécies não autóctenes (com destaque para o eucalipto), habitações “betonizadas” em larga escala, etc.
Os modelos de comércio de grande escala (shoppings, supers, cadeias de disconto, etc.) passaram a adquirir uma cada vez maior hegemonia, levando, entre outros factores, ao quase aniquilamento dos modelos de comércio de pequena escala e à decadência das economias locais.
Corporações com cada vez maior poder financeiro possuem cada vez maior poder e capacidade de influência à escala global, determinando em larga medida aquilo que são as nossas opções, relações económicas e sociais, assim como as mais diversas características, aos mais variados níveis, da nossa própria realidade.
Vivemos mergulhados num sistema económico onde uma avidez desenfreada leva à destruição dos diversos sistemas ecológicos do planeta, assim como ao extermínio de espécies e seres vivos. Leva também ao desaparecimento de inúmeras comunidades locais e seus modos de vida ancestrais um pouco por todo o planeta, e à exploração de milhões de seres humanos e não humanos.
Parece-nos cada vez mais difícil acreditar numa sociedade onde a nossa relação com o “meio-ambiente” e com as outras espécies animais não parta de uma matriz “utilitarista” humana e de exploração capitalista.
Parece-nos cada mais vez mais difícil conceber um modelo de relacionamento social não baseado na competição e exploração de milhões de seres humanos e não humanos por parte de uma pequena elite com um excessivo poder económico, militar e até “cultural”.
Assim sendo e não negando o “como aqui chegamos”, chegou o momento de nos unirmos em torno de um ideal, de uma visão, de um sonho da uma sociedade guiada por outros princípios e valores. Por uma sociedade “ecotópica” onde buscamos uma real e profunda integração nos ecossistemas naturais que sustentam a vida terrestre. Por uma sociedade com um carácter “comunitário”, onde junt@s criamos estilos de vida integrados pelos valores do humanismo, da solidariedade entre indivíduos, comunidades e espécies, por uma sociedade onde a Paz seja possível e cada vez mais uma realidade para todos os seres.
Caminhamos pois rumo a esse horizonte utópico mas real, longínquo mas cada vez mais próximo em cada passo, incerto mas ao mesmo tempo claro nos nossos corações e espírito.
Vamos pois criar a realidade com que sempre sonhamos. O momento de o fazermos é agora.

Terrazul – Movimento Ecológico Biocêntrico

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