MANIFESTO
de MATOSINHOS
23
de Setembro de 2015
Somos
os filhos de uma geração que, em Portugal, nasceu e cresceu no seio
de uma sociedade dita industrial (ainda que a indústria tenha vindo
a ser em grande medida “deslocalizada” e substituída pelos
designados “serviços”). Somos os filhos de uma geração que
nasceu e cresceu numa sociedade que se designou “de consumo”. Em
relativamente poucas décadas os nossos modelos e estilos de vida
alteraram-se radicalmente.
Passamos
de uma sociedade com uma matriz essencialmente agrícola e artesanal
para uma sociedade essencialmente especulativa e “massificada”,
onde a agricultura, assim como muitas outras actividades
tradicionais, passaram a ter um papel que se pode considerar
marginal.
Os
habitates naturais e as paisagens rurais, assim como naturais,
viram-se profundamente alteradas por uma febre de construção e
expansão urbano-industrial desenfreada caracterizada pela “explosão”
de todo um conjunto de mega-obras construções, tais como estradas
e auto-estradas, barragens, plantações massificadas de espécies
não autóctenes (com destaque para o eucalipto), habitações
“betonizadas” em larga escala, etc.
Os
modelos de comércio de grande escala (shoppings, supers, cadeias de
disconto, etc.) passaram a adquirir uma cada vez maior hegemonia,
levando, entre outros factores, ao quase aniquilamento dos modelos de
comércio de pequena escala e à decadência das economias locais.
Corporações
com cada vez maior poder financeiro possuem cada vez maior poder e
capacidade de influência à escala global, determinando em larga
medida aquilo que são as nossas opções, relações económicas e
sociais, assim como as mais diversas características, aos mais
variados níveis, da nossa própria realidade.
Vivemos
mergulhados num sistema económico onde uma avidez desenfreada leva à
destruição dos diversos sistemas ecológicos do planeta, assim como
ao extermínio de espécies e seres vivos. Leva também ao
desaparecimento de inúmeras comunidades locais e seus modos de vida
ancestrais um pouco por todo o planeta, e à exploração de milhões
de seres humanos e não humanos.
Parece-nos
cada vez mais difícil acreditar numa sociedade onde a nossa relação
com o “meio-ambiente” e com as outras espécies animais não
parta de uma matriz “utilitarista” humana e de exploração
capitalista.
Parece-nos
cada mais vez mais difícil conceber um modelo de relacionamento
social não baseado na competição e exploração de milhões de
seres humanos e não humanos por parte de uma pequena elite com um
excessivo poder económico, militar e até “cultural”.
Assim
sendo e não negando o “como aqui chegamos”, chegou o momento de
nos unirmos em torno de um ideal, de uma visão, de um sonho da uma
sociedade guiada por outros princípios e valores. Por uma sociedade
“ecotópica” onde buscamos uma real e profunda integração nos
ecossistemas naturais que sustentam a vida terrestre. Por uma
sociedade com um carácter “comunitário”, onde junt@s
criamos estilos de vida integrados pelos valores do humanismo, da
solidariedade entre indivíduos, comunidades e espécies, por uma
sociedade onde a Paz seja possível e cada vez mais uma realidade
para todos os seres.
Caminhamos
pois rumo a esse horizonte utópico mas real, longínquo mas cada vez
mais próximo em cada passo, incerto mas ao mesmo tempo claro nos
nossos corações e espírito.
Vamos
pois criar a realidade com que sempre sonhamos. O momento de o
fazermos é agora.
Terrazul
– Movimento Ecológico Biocêntrico